Meir Schneider e a sua Auto-Cura

A palavra deficiência, independentemente de espécie ou grau, vem contextualizada pela idéia de insuficiência e incapacidade, seja ela física ou psíquica. De alguma forma, todos nascem com algum tipo de deficiência, algumas mais aparentes que outras, mas elas sempre existem, uma vez que ainda não se conhece a perfeição.

Ao se tratar de deficiências do corpo ou da mente, segundo o senso comum, uma série de limitações passam a ser impostas ao portador da deficiência. Dessa forma, antes mesmo que as pessoas tomem consciência de suas possibilidades, um campo de atuação lhes é negado pela medicina e pela própria sociedade.

O ucraniano Meir Schneider nasceu em 1954 com catarata congênita, além de outras complicações visuais. Meir foi criado como uma criança cega e alfabetizado pelo método braille. Negou sua condição física e nunca aceitou ser rotulado como uma pessoa cega. Durante a alfabetização, foi instruído a sentir os símbolos em braille e a desenvolver outros sentidos, uma vez que não poderia contar com a visão. Ao contrário do que lhe era dito, o garoto sempre procurava forçar sua visão, aproximando os seus olhos dos livros e tentando enxergar o que não era capaz.
Aos 16 anos, ele resolveu iniciar uma luta contra sua cegueira. Meir conheceu um colega, também cego, que lhe contou sobre um livro desenvolvido por um oftalmologista americano, o doutor William Bates, que continha exercícios capazes de estimular os olhos a desenvolver a visão. Então, começou a dedicar 13 horas diárias à prática de tais exercícios. Durante sua passagem pelo Brasil, em abril, oportunidade em que realizou uma série de palestras e workshops, Meir Schineider concedeu-nos uma entrevista, em que relatou sua experiência.
Atualmente, Meir possui 80% de sua visão e tem, inclusive, habilitação para dirigir. As lembranças dos anos em que passou no escuro são contadas de forma equilibrada e relaxada. Seriam essas, segundo o ucraniano, condições essenciais para que ele conseguisse alcançar seu objetivo.
Observando todos os detalhes do ambiente simples em que relatava seu método pessoal, Meir pôde nos passar um pouco de sua trajetória.
Sentidos: Como utiMeir Schneiderlizar nosso corpo físico e nossa mente no auxílio à cura de doenças?
Meir: O corpo tem um potencial incrível de se proteger. Existem muitas maneiras de encontrar esse potencial. Normalmente você encontra o que procura. Se você olha o corpo como um engenheiro, procurando algo que precisa ser consertado, você o enxerga de uma forma parcial, e não completa. Mas se você olha o corpo como algo que pode ser melhorado e que pode funcionar melhor, então você encontra respostas de como fazer isso.
S: E quais seriam essas maneiras?
M: Nós temos 600 músculos no corpo, e a maioria das pessoas utiliza apenas 50. Os músculos que não são trabalhados tendem a ter sua mobilidade prejudicada. Podemos estar relaxando os músculos que mais usamos e fortalecendo os ou-tros. Esse é o primeiro princípio de nosso trabalho: utilizar o potencial que temos. O segundo é o relaxamento. Eu não acre-dito em trabalhar duro para conseguir coisa alguma, eu acredito em trabalhar da forma mais relaxada possível. O terceiro princípio é a conexão entre a mente e o corpo. A mente é capaz de bloquear as melhores possibilidades de nosso corpo, e vice-versa. Sentidos: Você fala em trabalhar sem forçar muito os músculos. O que acontece então com os esportistas que trabalham exaustivamente seus músculos? Meir: Eu corro muito, às vezes até 40 km, e sempre de uma maneira relaxada. A sensação ao correr tem que ser confortável. Se não for, você paga um preço alto. Eu não vejo atletas com vida longa, eles normalmente não passam dos 60. O importante não é o que você consegue alcançar, mas a forma com que alcança.
S: Nós criamos nossas doenças?
M: Algumas vezes sim, outras não. Mas nós podemos corrigir as patologias de nossa mente. O meio exterior provoca a maioria de nossas doenças, mas nós as exacerbamos com a nossa mente. Um bom exemplo sou eu mesmo. Na minha infância eu lia em braille e, quando eu olhava de perto para entender as letras, meu professor dizia: olhe para longe, você precisa aprender a sentir as letras. Fui instruído a esquecer que eu sabia ver. É isso que a mente faz com as nossas funções, ou melhora ou piora.
S: Conte um pouco mais de sua experiência.
M: Eu nasci com cataratas, e esse não é um problema para adultos. Se você tem cataratas quando adulto, poderá ter o cristalino removido e passar a ver 95% do que via antes, sem maiores problemas. Mas se você nasce com cataratas, isso é diferente. Eu fui operado com quatro anos, com essa idade estava muito atrasado para conseguir a cura, pois a operação deveria ter sido feita até minhas primeiras oito semanas de vida. Apesar de minha operação não ter tido sucesso, minha avó, que tinha uma filha surda e era muito curiosa, procurava levantar tudo o que havia no mundo da medicina e persistia em fazer outras operações. Fizeram todo tipo de experiência nos meus cristalinos, passei por cinco ope-rações e acabei ficando apenas com 0,75% da visão. Fui criado como uma criança cega, mas eu não aceitava esse rótulo de ser cego. Essa foi a razão pela qual eu consegui sair dessa condição.
S: Como começou a desenvolver os exercícios?
M: Um colega me passou os exercícios que tirou do livro de um oftalmologista americano. Eu passava treze horas por dia praticando exercícios. A primeira coisa que minha professora ensinou era que, para enxergar, precisaria relaxar os olhos. O que para mim foi difícil, porque eu pensava: como relaxar olhos cegos? O método que desenvolvi consiste em praticar exercícios com os músculos profundamente relaxados, estimular a oxigenação celular através de técnicas respiratórias e massagens corporais. O objetivo do método é criar uma conexão entre a mente e o corpo.
S: Você acredita que as pessoas podem se curar pela fé?
M: A fé pode fazer algumas coisas. Você pode acreditar que as coisas vão mudar, mas você tem que colaborar para isso, para as coisas acontecerem.
S: Você gostaria de deixar alguma mensagem?
M: Sim. Hoje em dia eu sinto que as pessoas querem ter realizações através de caminhos curtos. Minha mensagem é que as pessoas percebam que precisam se abrir para as possibilidades que o corpo tem, precisam co-nhecer seu próprio potencial. Para se curar através do método que desenvolvi, a pessoa tem que acreditar no potencial de seu corpo. Estou muito feliz de estar na sua revista, porque uma pessoa como eu tem uma certa dificuldade de ser incluída na sociedade. Eu não quero brigar pelas minhas idéias, eu quero que elas sejam aceitas.
Fonte: Revista Sentidos – inserida em: 12/7/2002 Reportagem: Claudia Gisele Pinto Colaboradora: Ana Maria Fiori

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